domingo, 27 de fevereiro de 2011

PARE E REFLITA - é merecedor de sua atenção


Onde pus a esperança

Onde pus a esperança, as rosas
Murcharam logo.
Na casa, onde fui habitar,
O jardim, que eu amei por ser
Ali o melhor lugar,
E por quem essa casa amei –
Decerto o achei,
E, quando o tive, sem razão pra o ter.

Onde pus a feição, secou
A fonte logo.
Da floresta, que fui buscar
Por essa fonte ali tecer
Seu canto de rezar –
Quando na sombra penetrei,
Só o lugar achei
Da fonte seca, inútil de se ter.

Pra quê, pois, afeição, esperança,
Se tê-las sabe a não as ter?
Que as uso, a causa pra as usar,
Se tê-las sabe a não as ter?
Crer ou amar –
Até à raiz, do peito onde alberguei
Tais sonhos e os gozei,
O vento arranque e leve onde quiser
E eu os não possa achar!

Fernando Pessoa
16/02/1920

"Pessoa exacerba a sua extrema melancolia (onde pus a esperança). Seus poemas expressam exatamente aquilo que sentia e isso é que mais me fascina neste grande poeta da literatura Portuguesa".

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